
Eu não vou comentar exclusivamente essa coleção, que apresenta cada coisa mais bonita que a outra, uma noiva tão correta (sem decote nem fenda) para cerimônia religiosa que até nos eleva à alegria, vou falar num todo... Se
Chanel vai vestir as mulheres chiques do próximo inverno,
Christian Lacroix vestirá as chiques e muito ricas. Para entender o tipo de cliente que veste alta costura, é preciso falar um pouco de como a maioria confunde as coisas. No Brasil há muito deslumbramento quando se pensa nas editoras de moda de grandes revistas do mundo e muita gente acaba achando que elas são verdadeiros alvos comerciais e que espelham vestuário
chique; porém, a maioria delas tem tanta obrigação (sim, elas têm chefes) de seguir as
“novidades”, frutos de projetos que lhes garantem emprego, que acabam não tendo um estilo próprio; algumas mergulham de vez nessa misturada, como faz de forma tão divertida a
Anna Piaggi, e outras nem tanto, ficam zanzando daqui e dali. Mas, como tudo, há exceção:
Diana Vreeland, por exemplo, que é um dos únicos exemplos com muito estilo próprio. Acima dessa coisa toda de revistas que são vendidas para a classe média, há um patamar social que
abate totalmente a idéia do que é ser “rico” na visão do
Terceiro Mundo, eu estou falando do restrito mundo das
jet-setters. Mulheres com sobrenomes poderosos há séculos e que foram aceitando, aos poucos, e hoje adotam a alta costura Lacroix.

Uma minoria, que inclui cabeças coroadas, que faz brilhar qualquer grife adotada pela turma. Então, quem verdadeiramente interessa para enaltecer o lado mais vaidoso da alta costura são essas clientes, geralmente tão sofisticadas que possuem até aviões enormes equipados com armários abarrotados por vestidos de alta costura e jóias
Harry Winston tão pesadas de sufocar. É para esse tipo de clientes que Christian Lacroix cria sua alta moda – e é para esse grupo que ele sempre quis criar. Sem abandonar o contexto histórico com criações que visitam o passado, o costureiro veste bilionárias que circulam por Paris
em Rolls Royces rumo às exposições de arte, aos casamentos mais tradicionais e recepções mais luxuosas em casas e castelos como
Blenheim Palace, na Inglaterra, e desde garotas foram preparadas com impressionante base cultural. Então, não é nada fácil criar uma alta costura que entre nos armários dessa turma. Lacroix faz isso – o começo não foi fácil, como revela um depoimento da
jet-setter Carmen Mayrink Veiga para
Vogue, comentando uma das primeiras clientes do costureiro:
“a elegante portuguesa Sao Schlumberger vestia Lacroix quando ninguém sabia quem era”. Christian Lacroix conseguiu ser conhecido e reconhecido por esse grupo tão sofisticado e mantém, estação após estação, uma seqüência de coleções que apresentam, além da beleza estrutural, uma profunda sensibilidade artística, características essenciais da base de todo sucesso. Ao contrário da arte que é vista no cotidiano do jet set, uma arte unicamente perceptível através da pintura, escultura, música, os vestidos de Lacroix são obras de arte usáveis que entronizam nessa atmosfera de exclusividade, beleza, cultura e glamour as suas mulheres mais elegantes do mundo.
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