
Fiquei triste com a morte da
Dercy Gonçalves, ontem, 19 de julho de 2008. Ela tinha muita autenticidade, era livre da obrigação de
pagar qualquer preço na vida de convivência e fazia o que lhe dava na telha mesmo. Exageradamente vaidosa e animada, lúcida – um exemplo de qualidade de vida que é meta seguida pela medicina. Há alguns meses parei tudo para ver sua participação no programa de entrevistas do
Silvio Santos, no SBT, e lembro bem que senti uma angústia por dentro – admiração pela idade avançada, mas também senti muita pena dela e não entendi motivo –, penso que todo mundo fica mesmo sensibilizado diante de um exemplo como o dela. Hoje percebo que o Brasil agiu certo com a Dercy, pois é um país de
amor mórbido que só sabe valorizar as pessoas depois que elas acabam; e se a gente analisar bem a trajetória da Dercy Gonçalves, ela tinha uma homenagem atrás da outra durante os 101 anos que viveu. Então é foto com Presidentes da República, com gente da alta sociedade, o
creme do teatro e televisão, amada pela imprensa, pelo povo que acompanhava seus desfiles em escola de samba e tudo que ela fazia dava uma audiência enorme na televisão, em tudo. A vida é exatamente isso: o prazer próprio. Todos nós sabemos que tudo nesta vida tem começo, meio e fim, mas é a maneira como caminhamos pelas fases, e como aproveitamos – por nós mesmos – cada acontecimento, que enche de belezas (em vários e belos sentidos) um nome, uma lembrança e uma imagem. Uma pessoa com uma vida repleta de cor, alegria, liberdade, talento e admiradores do topo à base da pirâmide social merece mesmo muitos aplausos e nada de tristeza.

Fotos: Dercy posando com manteau de vison; fazendo pose na poltrona; 'arrumando-se' diante de um pequenino espelho; com os Presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso.
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