Não é por ser em Paris que uma moda tem que, obrigatoriamente, fazer sucesso, mas eu gostei da coleção de Pedro Lourenço, desfilada ontem em meio à semana de moda. Claro que a linha é a mesma: coisa futurista, seguindo a anterior – o que descarta qualquer interesse na inspiração, já que quem consome e acompanha moda quer ver resultado bem-feito e não os meios que nem sempre são realistas e só fazem perder tempo. Passarela e apresentação clean. Não quero falar da produção cabelo/maquiagem. Até o cumprimento ao público foi igual. A questão das cores é que tudo é simples, tons pastéis, transparências, mas a estrutura me agrada mesmo. Criatividade na construção de vestidos que causam efeitos de estreitamento de silhueta e faixas estratégicas, simulando sensualidade e timidez em meio uma certeira tentativa fashion. Não achei uma coleção com feminilidade, acho que a estrutura é geometricamente masculinizada. Imagino o tipo de cliente, imagino o esforço dele, imagino as boas críticas, porque a gente dá desconto nos zíperes aparecendo nas costas e faz parecer que provocativo, do tipo “Oh! Que provocante! Ela pode se despir rapidamente!”. Prefiro ignorar as pesquisas dele na construção da coleção, porque entendo o resultado como livremente construído, assim como acontece com os artistas, que não querem lucro, só querem arte, por exemplo. Não pense que, assim, a moda do Pedro fica desvalorizada, é o contrário. Isso é valorizar mais o que o jornalismo pode apenas mostrar, publicar, sem tentar captar e explorar algum sentido que, vez ou outra, é invenção pra “encher linguiça” nas entrevistas. A realidade é que toda moda prêt-à-porter é efêmera e a coisa fica mais difícil quando há tentativa de expressão exclusivista com desenhos geométricos, peças escultóricas que parecem suspensas no espaço das pernas, do busto, da cintura. Um bom desenvolvimento de moda pode ser muito esnobe por ser exclusivamente artístico ou muito controlado dentro das opções comerciais. Quando uma coleção como a do Pedro é desfilada, qualquer coisa pode ser entendida no quesito de liberdade criativa, de “arte”, que é quando flui fazer um desenho, uma combinação, independente de uma pesquisa inspiradora de quem quer atrair atenção com uma história conhecida. Ou a coisa é óbvia, mas honesta, como os tailleurs com estampas de pinturas nas coleções de alta costura de Yves Saint Laurent, ou nos chapéus em forma de bicos que o Lino Villaventura fez inspirando-se em aves. Isso é inspiração autêntica, longe da enfadonha tentativa de chamar atenção, invenção para expressar algum conhecimento ou passar boa base cultural, etc. Perda de tempo. Sejamos realistas: O Pedro é criativo, segue uma linha, e só. Será que ele tem que dizer que se inspirou em X, em Y, para fazer cada coleção? Ele não pode ser criativo por conta própria como Karl Lagerfeld? Pode, e ele é!
Ilustração: O look que mais gostei do desfile. Equilibrando futurismo e moda clássica, funciona como apresentação e oferta comercial. Falta cor, por favor.
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