Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO -
Estamos em reta final para o fim dos tempos. Acho o máximo imaginar que
estaremos na Era Messiânica muito em breve e que tudo isso que vivemos
irá pelos ares. Nossas peles impecáveis, mantidas com terapia
biomolecular e bons dermatologistas, nossos armários abarrotados de
luxos que tanto custam aos nossos bolsos quanto a nossa falta de
caridade, nunca mergulhamos tão fundo nos pecados dos excessos pelo
nada. São nossos escudos contra a realidade. A moda, que tanto ajuda a
esquecermos as barbaridades que acontecem a cada dia com todos os seres
vivos, está envolvida em pura fumaça, espectros do passado que assombram
as passarelas do presente como se fôssemos cada vez mais loucos a cada
desfile, a cada elogio que fazemos ao que é mostrado. Mas, ainda há
alguma cena autêntica no meio desse purgatório: ver a Suzy Menkes
sentada fazendo suas anotações como boa jornalista que é, não se
importando em cruzar as pernas e fazer um teatro como aquela coisa tão
vazia que encarna a Anna Wintour durante eventos de moda. Eu não
pensaria duas vezes antes de apontar para o talento da atriz Cássia Kis,
quando vilã, como modelo perfeito do que deveria ser uma boa encenação
de uma grande editora de moda… Então, voltamos à sala de desfile. Cerca
de 45 graus à esquerda, no círculo da Dior, o toque brejeiro do Vogue
Brasil. Sem falar nas atrizes com seus vestidos devidamente emprestados
pelo Sidney Toledano, que, permita-me uma digressão, foi bem esperto em
convidar a Laetitia Casta para a viagem da coleção passada da alta
costura Dior até Hong Kong. A manequim, que foi uma das preferidas de
Yves Saint Laurent, antes dele fechar a maison, também estava atual,
usando um vestido da coleção retrasada, e posando ao lado dos ricos
chineses em seu piso de milhares de pequenas lâmpadas LED. Enquanto a
pose estava perfeita, Laetitia estava meio indecisa, perdida, entre o
que viu e vestiu da alta costura e o que teve de elogiar dessa vez. Mas,
agora é a vez de voltar ao tempo dentro da cabeça “moderna” do Raf
Simons e imaginarmos uma Marie Antoinette astronauta, preparada para
aparecer na Terra em meio aos terrores cometidos pela humanidade, e
decolar novamente rumo ao Espaço Sideral, assim como decolam as vendas
da Dior com a aceitação do chique imposto por essa nova alta costura que
está cada vez mais pobre, porém, continua chique. Eu gostei dos
primeiros vestidos armados, brancos, alguns com bordados e achei tudo
realmente bem chique. Mas… Estou apenas sendo tolerante em meio ao caos
na moda. Mulheres extremamente elegantes e mundialmente conhecidas no
mundo da alta moda como Carmen Mayrink Veiga, Jacqueline de Ribes,
Paloma Picasso, Bernadette Chirac e Bethy Lagardère, por exemplo, estão
cada vez mais afastadas dessa “badalação” em torno de uma alta costura
cada vez mais maluca. Bernadette Chirac ainda faz uma ponte ou outra
entre os desfiles, mas, evita jornalistas e o descontentamento é muito
aparente. Não é somente entre os convidados que as pontes entre os
desfiles são erguidas, na comunicação de bastidores também. O ultimo
vestido da Chanel mostra uma boa grampeada com a Dior. Eu gostei do
último vestido e do toque barroco em alguns outros. Karl Lagerfeld está
cada vez mais liso de tanto esforço em parecer simpático e bom vendedor
diante da mesmice, é o dono da barraca vendendo a coxinha esquentada no
microondas, é o repertório “café-requentado” do Roberto Carlos, vendido
como novidade a cada apresentação. Entendo que essa comunicação valha a
pena para Lagerfeld, que busca atualizar-se a cada dia, mesmo dando
derrapadas terríveis como colocar tênis e pochete na coleção de alta
costura passada da Chanel ou levar o supermercado à sala de desfiles da
linha prêt-à-porter. Tudo tem de ter limite! Repetições visuais à parte,
a coisa está tão feia e minimalista que eu não entendo como ainda não
pegaram no pé do Elie Saab com aqueles vestidos espetaculares que ele
faz. É, sem dúvida, o melhor da alta costura. Porém, infelizmente, a
moda dele logo será considerada “over”.
Alta Costura - Dior e Chanel | outono/inverno 2014/15
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