Alta Costura - O Desconcertante Pode Ser Fascinante e Chique


Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO - A moda pode definir nossa classe social, mas, isso não é novidade. A novidade está na sensibilidade de cada um quanto a diferenciar as coisas. Com a onda minimalista, é preciso aprimorar a forma como você vê e analisa um item de moda. Peças aparentemente simples, como um par de meias, por exemplo, quando feitos com tão alta tecnologia e materiais nobres, pode custar um carro. Você acha isso impossível? Definitivamente, a realidade do mundo do luxo destrói qualquer barreira de espanto. Porém, caro leitor, isso não quer, obrigatoriamente, dizer nadinha sobre elegância. Quando vislumbramos o real estadão do alto luxo mundial, podemos perceber a naturalidade em certas, e especiais, mulheres usarem vestidos tão nababescos em bailes realizados nos castelos mais esnobes do mundo, quando a alta costura ainda mostrava as extravagâncias de John Galliano para Dior, jóias pesadas em gramas e preços eram usados sem nenhuma ostentação, supersônicos Concorde transportando ricaços para um casamento. A alta costura atual tenta facilitar as coisas e, por mais que os preços permaneçam superando as ‘barreiras de espanto’, a idéia é fazer com que cada uma das clientes consiga ser cada vez mais discreta, comum e até desinteressante. Será que somente através de uma percepção de pessoas impecavelmente bem-vestidas e numa correta linha de rigor é que podemos identificar quem é realmente “in” e elegante? Vejamos, então…
        Quando o assunto é moda, as mulheres mais elegantes do mundo dão um show; antes de tudo, é preciso deixar claro que a lista das mulheres mais elegantes do mundo só é realmente válida até o ano de 2003, quando Eleanor Lambert selecionava os nomes. Pare de imaginar que o tempo pode transformar coisas e pessoas em elementos “ultrapassados”, isso é uma visão muito complexada do tempo e, sobretudo, errada da moda, a não ser que você prefira a ignorância de ignorar a história da moda e o desenrolar até o que aplaudimos hoje nas passarelas. As mulheres mais elegantes do mundo não são elegantes apenas pelas roupas que vestem, pelos preços pagos nessas peças tão artisticamente valiosas ou pelo porte para a moda. Elas são elegantes pelo temperamento, pelo comportamento, a forma de ser, falar, etc. Daí, quando uma mulher é realmente elegante, ela conhece as regras e pode, de forma muito charmosa, violar cada uma dessas regras sociais, dando outro tipo de show, que não apenas confirma sua posição e status, mas, nos fascina e marca a força de mudança de seu estilo, encorajando-nos à moda.
        Estamos chegando nessa onda da primavera e do verão e as propostas mais luxuosas vindas da alta costura de Paris, englobam uma sucessão de fragilidades rosadas, quase em pó, com suaves cromados, como podemos ver nas coleções de Karl Lagerfeld para Chanel, por exemplo, enquanto as grifes mais simples, de construção do prêt-à-porter, desfilam em Nova York com cores brilhantes e fluorescentes, quase como vitaminas, e todo mundo sabe e toma essas cápsulas vitaminadas que acompanham todo café da manhã. Como a gente se identifica com a moda, não é mesmo? Como é fácil seguir à risca uma linha de ofertas e aderir ao vestuário de mundo. Prada, Marc Jacobs, são dessas linhas cada vez mais copiadas para o povo.
        Mas… É hora de brilhar. Nisso, a luz também é uma questão estética para o dia e dá trabalho aos maquiadores, que, quase à beira da loucura, precisam manter uma pele brilhante que não reflita tanta luz, senão, basta um simples flash e a mulher aparentará 4 quilos mais gorda. Mas, será que o peso importa quando o assunto é elegância? Nunca as pessoas estiveram tão preocupadas com a moda, nunca copiaram tanto a moda desfilada nos grandes centros internacionais, nunca as pessoas foram tão medicadas para a beleza, magreza, palidez e equilíbrio psiquiátrico. Para quê? A loucura e as extravagâncias não saem de moda quando o assunto é ‘luxo’.
Eu sei que a loucura é fashion, mas, só quando há muito estilo e inteligência envolvidos. Tem coisa mais chique do que a loucura da Cornélia Vanderbilt, que chegou a ser internada e tudo? E a Séraphine de Senlis, com todo aquele talento artístico? A loucura pode ser muito útil para o fútil, mas, nem tudo que é fútil é esquecível, dispensável, ou ruim; tudo pode ser útil na moda, no nosso estilo, cotidiano, e na forma como banalizamos o que inicialmente nos incomoda para que possamos usar, falar, comprar. Como, então, você explicaria o estilo da Anna Piaggi, por exemplo, que ficou na história, apesar de parecer o Chapeleiro Maluco – o que muitos podem considerar uma crítica, mas eu vejo como elogio, pois gosto da personagem –, está lá, na lista das mulheres mais elegantes do mundo, junto a nomes como as nossas brasileiras Carmen Mayrink Veiga e Silvia Amélia de Waldner, por exemplo. A Anna Dello Russo é outro exemplo de exageros no mundo fashion, quase uma Lady Gaga na moda. Como você também explicaria a Carmen Mayrink Veiga, a mulher mais elegante do Brasil e uma das mais elegantes do mundo, posando de forma sensacional em cenário de luxo revirado, com vestidão de abafar, mostrando as pernas para as lentes do Miro? Isso é o máximo.
        Quando vemos um desfile comercial com ofertas absolutamente malucas, que jamais usaríamos, tenhamos qualquer que seja a reação, mesmo que os modelos e manequins pareçam ‘objetos desfilantes não-identificados’, temos de notar o caimento da roupa, o balançar dos tecidos e a criatividade na mistura de cores, texturas e estilos. Quanto mais maluca a moda pode parecer, e realmente pode ser, mais estará próxima do nosso cotidiano, mais será acessível e será menos chata.
        Além das áreas de sensualidade, com transparências, ou fotos publicitárias com nus febrilmente provocantes em anúncios de perfumes e roupas, a loucura criativa e apresentada é um jogo que funciona como uma nova linguagem que estimula nossa imaginação para que possamos arriscar e inovar, encorajar e revelar nosso estilo e nosso humor. Moda é possibilidade e, se você tem estilo, é uma expressão de arte muito além da técnica e estrutura, mas, também, na produção que só uma pessoa especial pode imprimir ao fashion.

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