O Portinari de CARMEN MAYRINK VEIGA



Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO - Estamos embarcando numa máquina do tempo até o segundo semestre do ano de 1955. Os colunistas publicavam que a linda Carmen Terezinha Solbiati - quatro vezes considerada uma "it-girl" pelos colunistas sociais americanos -, a garota mais comentada nas publicações sociais do Brasil da época, concorreria ao título de "Glamour Girl" de São Paulo. A jovem Carmen estava em uma de suas temporadas no Rio de Janeiro e almoçava com uma amiga, Gilda Sarmanho, no Hotel Copacabana Palace - onde costumava se hospedar. Os eventos sociais ferviam e as notas jornalísticas também, com o nome de Carmen, claro, que também havia terminado seu comentado noivado com Ricardinho Fasanello, em São Paulo - Inclusive, há algumas notas sobre um ligeiro atrito envolto em ciúmes, no Baile da Hípica de agosto de 1955, em São Paulo, entre Ricardo e um amigo carioca de Carmen. Enquanto os colunistas falavam sobre o assunto do término do noivado com Ricardinho, a bela it-girl esteve no Galeão, com um grupo de amigos, acompanhando um amigo em especial, o rapaz que seria seu futuro noivo e com quem se casaria, o carioca do episódio no baile da Hípica, Antonio Mayrink Veiga, o Tony, famoso playboy carioca, que ia para os Estados Unidos no dia 26 de novembro daquele ano. Alta, magra e muito chique, Carmen cumpria uma lotada agenda de eventos sociais e, cada vez mais procurada pela imprensa, deu mais uma entrevista para a televisão - Na época, a televisão era ao vivo. Porém, dessa vez, um telespectador em especial, que já a conhecia através das crônicas e fotografias dos jornais, o pintor Cândido Portinari, estava no dia e na hora certa diante da televisão e a viu. As colunas sociais da época citaram a admiração de Portinari por Carmen, e os esforços do artista para conhecê-la pessoalmente, quando ela voltasse a São Paulo. A primeira nota sobre Portinari ter ficado "impressionadíssimo com a beleza da jovem Carmen" foi publicada em 01 de dezembro de 1955 (página 11, Correio da Manhã). Os dois se conheceram em dezembro do mesmo ano, antes de uma importante exposição dos trabalhos do pintor, organizada pela Baronesa de Saavedra e Francisco Matarazzo Sobrinho. "Pintarei seu retrato, menina", disse Portinari. "Eu nem sabia que ele era o grande pintor do Brasil", disse Carmen. Em seguida, o pintor foi aos Estados Unidos, receber um prêmio e inaugurar seus painéis na ONU. As colunas sociais ainda falavam dos esforços de Ricardinho Fasanello para reconquistar sua amada. A moda e a sociedade estavam a todo vapor e havia todo aquele suspense insuportável para que os jornalistas de Nova York e Paris noticiassem quem seriam as garotas e mulheres mais elegantes do mundo de 1955. Porém, já havia um nome certo da América do Sul, acima da nuvem de incertezas: Carmen Terezinha Solbiati estava na lista pela quinta vez. Passaram-se os anos, Carmen e Tony se casaram e ela passou a ser noticiada cada vez mais como Mayrink Veiga, menos Solbiati. Cândido Portinari manteve o sucesso recebendo prêmios e exposições pelo mundo. Carmen continuou sua agenda social e, em 1959, encontrou-se com Portinari numa exposição no Rio. "Agora, eu vou pintar seu quadro amanhã!", disse o pintor. Carmen topou e marcaram para começar o quadro às 9 horas da manhã. Portinari morava no Leme e já estava intoxicado. "Demorou 6 meses, incluindo o reflexo do mar nos meus olhos que na realidade são cor de avelã. Na cabeça dele eram verdes. Eu disse: 'Portinari, pelo Amor de Deus não põe verde, eu sempre sonhei ter, mas não tenho.' Aí no quadro não é verde. É uma mistura de verde com avelã...", declarou a fascinante Carmen Mayrink Veiga. Missão cumprida: Cândido Portinari retratou Carmen, a mulher mais elegante da América do Sul. E Carmen Terezinha Solbiati Mayrink Veiga está eternizada no encanto da arte de Portinari, o maior pintor do Brasil. 


Retrato de Carmen Mayrink Veiga
FCO: 1493
CR: 4547
Data: 1959
Pintura a óleo / tela
62 X 52 cm
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Assinatura:Assinada e datada na metade inferior à direita "PORTINARI 59"
Coleção: Coleção Particular
Temas:Retrato:Mulher
Figura Humana:Mulher
Descrição:
Composição nos tons terras, ocres, preto e vermelhos. Textura lisa. Retrato de busto de mulher ocupando a quase totalidade da área do suporte, contra fundo escuro. A retratada está de frente, tem cabelos negros penteados para trás e compridos caindo sobre os ombros; testa alta, sobrancelhas negras angulosas bem longas, olhos grandes amendoados, nariz afilado com a ponta arrebitada, lábios carnudos fechados, queixo pontudo e pescoço longo. Nos lados das faces, áreas sombreadas marcam reentrância ressaltando a angulosidade do rosto. Usa vestido vermelho de alças e decote quadrado. Fundo liso escuro.

Fonte: Arquivo Pessoal.

2 comentários:

Unknown disse...

Como está Carmen este ano de 2015? Como está sua saúde?
Temos um grande acervo do passado recente e longínquo de Carmen, mas da atualidade é um pouco restrito. Talvez por opção da mesma, de qualquer forma, me daria muita alegria ver fotos mais espontâneas, atuais dela.
Seria interessante também saber o que ela tem pensado, ouvir o que ela tem a dizer.
A última entrevista que vi de Carmen foi para o Amaury em 2011, se não me falha a memória.

Saudações a Carmen. Agradeço por sua atenção!..

Unknown disse...

Existem pessoas que passam por este mundo de forma arrebatadora, brilhante e absoluta. Dotadas de força, beleza e refinamento sobrenaturais, elevam a nossa espécie e nos imaginamos em uma existência de perfeição! Enobrecem a vida... e,sem perceberem, a nós também! Sempre admirei essa mulher!