Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO - Enquanto a preocupação do presente com o futuro, já
atingido pelo medo da violência e ataques terroristas, causa estresse e mudanças
de comportamento entre as pessoas mais simples que cada vez mais se isolam do
mundo e se entopem de remédios sonhando com príncipes encantados e lindas donzelas que não existem mais, os desfiles de alta costura - que conduz um tipo de moda para as pessoas
mais ricas do mundo - desaceleraram suas produções e as jóias submergiram,
revelando um tipo de crise capaz de estremecer até o topo da pirâmide social
mundial. Os cenários são extravagantes e caros, mas, a produção das manequins
está cada vez mais clean e pobre. Sejamos otimistas, rotulemos essa nova seca fashion
como 'o bacana' do momento e fica tudo certo.

Dior veio numa onda de David Bowie
que, particularmente, considerei batido e não gostei. Raf Simons tem sorte de
poder contar com a beleza e o luxo dos bordados em suas "criações",
além do charme da sombra fashion que é a assinatura Dior. Capas plásticas sobre
vestidos inteiramente bordados são as apresentações mais 'bonitas' da grife
nesta coleção. Mas, realmente, não há mais nada a dizer. Giambattista Valli
mostrou uma coleção romântica, com muitos babados e tecidos esvoaçantes, rendas,
alguns comprimentos bem curtos e peças de estruturas firmes e simétricas também
foram desfiladas; bordados com muitas flores, e uma linha de formas e
combinações quase sempre seguida por Karl Lagerfeld para a Chanel, mas, também,
outras peças são facilmente confundidas com roupas Dior. E como os floridos
estão em quase todas as coleções, Alexis Mabille também apresentou suas bonitas
versões; dá pra notar que todas as casas repetem tecidos, estruturas, visuais, comprimentos,
etc., há muitos elementos que circulam entre todos os desfiles.
Precisamos nos
afastar da influência comercial das grifes de luxo já carimbadas de Paris e nos
permitir conhecer novas marcas, novos fashion-designers - Mais uma digressão: quando eu uso a expressão 'fashion-designer' é para facilitar, pois, tenho consciência de que há costureiros, criadores e estilistas e a expressão americanizada resume a coisa. Não há outra alternativa para
a moda. É preciso evitar qualquer pânico diante de tanta baboseira repetitiva
no clubinho da moda parisiense e novaiorquina. Por isso eu gosto tanto do Lino Villaventura, tudo que ele faz na moda é tão chique e sofisticado, o Guilherme Guimarães também. Ah, como seria bom o Tom Ford no
comando de uma dessas bodegas francesas de alta costura atuais. Alguém poderia fazer uma
campanha pela volta do Christian Lacroix... Inundem as manequins de jóias
assinadas por Claude Lalanne ou Paloma
Picasso, o vintage de LouLou de La Falaise. Como o luxo faz falta na alta
costura! Parece que está todo mundo dopado na moda.
Os melhores e mais bonitos
desfiles da semana de alta costura foram o de Ulyana Sergeenko, que comentei no post anterior, e Armani Privé [acima]. As roupas são uma união
de tudo que as outras marcas mostraram, porém, com a valiosa característica
atemporal, maquiagens incrementadas, mesmo assim suaves, grandes brincos,
óculos escuros, pulseiras, acessórios, bolsas. O desfile realmente mostra uma
linguagem sofisticada e chique para clientes tão exigentes, femininas e vaidosas. Realmente um luxo o
desfile da Armani Privé.
Bom, sobre a coleção da Chanel, desconsiderando o bonito cenário com flores abrindo do cinza, Karl Lagerfeld fez, sem dúvida nenhuma, a
continuação da coleção prêt-à-porter primavera-verão 1999, numa versão
obviamente luxuosa por causa dos bordados e tecidos, mas, é
uma continuação. Isso foi totalmente decepcionante para quem acompanha moda. Sem falar que eu vi o desfile com um olhar menos simpático, pois, na mesma semana da alta costura, eu li no Daily Mail [Clique AQUI para ler] uma grande reportagem sobre Christiane Johnson [Foto principal], 83 anos, a irmã de Karl Lagerfeld, isso mesmo (!), a irmã que todos que acompanhamos moda sempre soubemos que mora nos Estados Unidos e que deveria ser rica e "low-profile", até que estranhamos quando, recentemente, o costureiro da Chanel declarou que "não tem família" e que sua família "é sua turma de modelos", que ele escolheu assim. Eu achei triste a história deles dois, afastados desde os anos 70, década que marcou a última vez que se viram. O mundo se encarregou de afastá-los talvez, mas, não entendo como Lagerfeld, sendo tão rico e famoso, não faz algo para haver um reencontro, uma reaproximação real, em meio a tanta fantasia e personagens interesseiros ao redor de sua vida em Paris. Ela jamais usou uma roupa criada por ele! Eu não tenho certeza se o afastamento é algo ruim para a senhora Johnson, que conserva-se com os pés no chão, sem ter seu ego inflado e sua alma diminuída; ela mantém uma grande coleção de reportagens das conquistas do irmão e se orgulha dele, faz comentários educados e tolerantes. É um tipo de afastamento estranho, pois, ela tem o telefone particular dele, mas, por ele nunca ter tempo para nada, evita incomodá-lo; em agosto de 2014, Lagerfeld escreveu para a irmã, após falar que considera seus modelos sua família, enviando uma foto dele com sua gata de estimação. Eu tive pena dos dois e poderia repetir que tive pena mil vezes, mas, tenho certeza que ele perdeu muito com esse afastamento. E, tomara que ele não tenha abastecido esse distanciamento, pois, somente pessoas muito perigosas fazem isso. Ele está longe de sua realidade, o que é uma pena. Um grande pintor alemão - mesma nacionalidade dos irmãos -, Max Beckmann escreveu: "A única realidade que temos são as imagens dos
nossos sonhos". Talvez isso sirva para Lagerfeld, que não deixa de ser um artista, até que ele acorde e perceba que há uma realidade que pode abraçá-lo. Será que a moda é realmente importante neste mundo em que vivemos, quando nos desinteressamos do que realmente deveria valer a pena, que é a família?
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