Tudo Ficou Para Trás



Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO - Eu não quis falar da segunda coleção de alta costura de John Galliano, a mais recente, para a Maison Martin Margiela por não considerar certo um texto que faça retroceder qualquer impressão referente a tudo que vi ele fazer na moda, quando a tendência, literalmente, deve ser ir em frente. Mas, se Marie Antoinette foi guilhotinada, está certo que os palácios não são seguros. Pelo menos, é preferível imaginar que tudo está saindo da criatividade ainda indomada e misturada de um forçado e principiante Galliano, como numa fantasia, num começo. O jardim transformou-se em deserto para John Galliano, mas ele não está sozinho e a moda é apenas uma das áreas atingidas pelo transbordamento. O jardim que prometia a felicidade suprema, um lugar interminável de criatividade, espaço, glamour, beleza... Enquanto se tem a hipótese da recompensa que vem após o fim, seja pelo árduo trabalho, pela mania de julgar os outros, ou pelas rezas, alguma recompensa ou acontecimento desconhecido que complemente a estrada, consolando mágoas, com todos os climas, luzes, brilhos, construindo novos e novos espaços de arquitetura de ilusões e memórias em que tudo ainda pudesse ser vivo e frágil, em que pudéssemos fingir dramas e charmes, não restou absolutamente nada além da chance de recomeçar, quando não se tem mais idade para usar tantas roupas, sapatos e vantagens. Não há mais espaço para espontaneidade ou geometria na vida. Os grandes salões estão instalados num palácio de memórias qualquer, quando o mundo é revelado e desnuda a mais bruta verdade dos homens casados que tentam resgatar suas maneiras de solteiros, com grosseria, enquanto as mulheres encarnam uma rude e asquerosa virilidade. Eis o novo mundo, onde os homens preferem pagar fortunas pelo banco do carro esportivo, do que qualquer merreca para presentear suas mulheres. Mas, não há razão para desespero, nenhum palácio permanece eternamente de pé, está na hora do terrível momento das agulhas espetarem as memórias, torturando os cérebros até que nada possa ser mais confortável do que o fim. Você é capaz de ouvir os passos da copeira trazendo a bandeja pela manhã... Ir em frente, mesmo quando a escuridão do futuro nos reserva um grande abismo. Não há mais tempo para voltar e você já se foi.

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