Jamill Barbosa Ferreira - @JAMILLISSIMO - As mudanças no mundo da moda não deveriam ser
tão alarmantes, afinal, comercialmente falando, continuaremos vestindo as mesmas
entediantes estruturas para um padrão físico que, em larga escala, não sofreu
nenhuma evolução/mutação, que alterasse tudo que, basicamente, se entende como
roupa comercial. Mas, as rodas estão girando e Raf Simons deixou a Dior... Isso é tão
chato, previsível e repetitivo! Alguns acontecimentos futuros estão tão
visíveis que não há desculpa para fingir evitá-los. O processo criativo de
Simons parecia ser tão terrível, tão sob-pressão, que passei a admirar o resultado
de sua alta costura. A Dior sofreu uma completa mudança após a saída de
Galliano e é preciso ter muita bagagem e muito gás para manter a máquina em
velocidade paralela a tudo que foi jogado sobre o fashion-designer: além da
alta costura e prêt-à-porter, havia coleções entre as temporadas e eventos focados
nos clientes orientais, indo até eles, por exemplo. Karl Lagerfeld não tem
muito esquentamento de cabeça, tendo em vista que ele prefere sempre manter
tudo praticamente igual, com algumas mudanças salteadas entre temporadas com 2
ou 4 anos de diferença entre elas. Eu prefiro perceber e acompanhar a arte, sobretudo
quando está ligada ao fashion. Diana Vreeland está mais presente do que nunca
no cenário mais interessante do mundo fashion, afinal, ela começou a onda de
exposições de moda em museus, com toda aquela carga de exageros e personalidade
que trouxeram, por exemplo, Iris Apfel como a figura fashion, gráfica, mais interessante
que a moda atual está vendo e publicando. E, por favor, não me fale em Anna
Dello Russo, ela é tão forçada... A moda deve ser, antes de tudo, um conforto,
um prazer. O toque artificial é essencial para qualquer personalidade fashion,
mas, não pode ser um fardo. Você vê a Donatella Versace, totalmente
plastificada, visualmente artificial, magra e aparentemente fútil, chique e, ao
mesmo tempo, confortável consigo mesma e controlando um império comercial. Parece
chique jogar o sorvete na lixeira enquanto o arrependimento foi capaz de
lembrar da calça para o verão; mas, nada disso vale a pena se não for pelo
prazer e conforto e é esse tipo de prazer que está em voga na classificação de quem
é quem na sociedade, são as suas escolhas, entre o sorvete e a calça, que
começam a definir sua personalidade fútil. Não há nada de errado em ser fútil,
desde que isso seja você e desde que você seja muito inteligente dentro de suas
limitações impostas pela vida. "Ah, eu prefiro o drama da futilidade; e
que todos os sorvetes sejam jogados fora", pode ser muito divertido de
escutar, mais ainda se alguém for forte o suficiente para "gritar",
em tom suave, o contrário. Quando Vogue Brasil vai se tocar e deixar o Bruno
Astuto assumir a primeira fila nos desfiles? É chato vê-lo atrás, escondido, quando
na verdade ele conheceu e conseguiu ser amigo de tanta gente top no mundo da
moda internacional, como Marisa Berenson - para dizer o mínimo -, que esteve no
Brasil a convite da Amsterdam Sauer e ganhou um jantar do Astuto e seu
companheiro, Sandro Barros, no Copacabana Palace. Gente, até a Carmen Mayrink
Veiga esteve lá! Eu não sei qual o tamanho da determinação das pessoas, mesmo
neste mundo que defende o 'estilo coletivo', ou até onde cada pessoa está
disposta a ir, até perceber que pode ser melhor ceder o lugar... Raf Simons não
demorou tanto para enxergar. Quero um livro feito pelo jornal O Dia com todas
as colunas de sábado que a Carmen Mayrink Veiga assinou! Quero o museu de moda da Hildegard Angel! Quero a linda foto dos flamingos posando no cenário da chique Lily
Marinho para a Caras e os textos apimentados
do Marcio G! Quero um programa do José Gayegos no GNT! Quero rever o Fernando de Barros fechando o Roda Viva com
chave de ouro, afirmando, na cara do Versolato, que ele "pelo visto está
escondendo muitas coisas aqui"! Quero esquecer a maldade que a Regina
Guerreiro fez com o ganso naquele editorial de moda e prefiro acreditar que ela
não teria borrifado tinta na ave se soubesse que isso a mataria... Eu detesto
maus tratos aos animais e, portanto, prefiro pensar assim para continuar
valorizando o talento que ela teve para escrever e produzir conteúdo fotográfico
por tantos anos para revistas famosas. O preço que se paga pelas escolhas e
pelas atitudes é uma conta alta demais. O mundo singular não deve ter mais
espaço na moda, mesmo quando é preciso aceitá-lo para permanecer in. O sexo não
é mais tema de nada no mundo das pessoas realmente interessantes, a evolução já
as atingiu. Ah, a Nova Era! Como é bom conversar com pessoas menos físicas e
mais artificiais, mais livres, únicas! Os tecidos, a ciência, as peles lisas e
belas, a futilidade, o porta-retrato com o bilhete do Concorde! Veja, meu
amigo, você não tem mais desculpas para não comprar suas camisas Tom Ford,
agora é tudo vendido online! Veja, minha amiga, o namorado perfeito não morreu
na tragédia do Titanic, ele agora sabe exatamente o que evitar pelo caminho,
desde os cabelos muito lisos ou as falsas sardas, por exemplo. Calma, calma!
Nada disso vale realmente nada quando somos derrubados à realidade e precisamos
ver o bebê gritando em choro, agarrando e comendo uma folha seca de milho, levado
aos trancos e barrancos nos braços magros da mãe que só quer correr e ter a
chance de entrar na Alemanha... Será mesmo que estamos preparados para a
realidade? Cada um de nós está cada vez mais sozinho e isso está acontecendo
enquanto o mundo desmorona. Desculpe-me, caro leitor, mas... Quem é mesmo Raf
Simons?
Moda - A Dança das Cadeiras
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